Entrevista Luan Luando (Poeta, Ator e Palhaço)
- Instituto CITA
- 20 de mai. de 2022
- 7 min de leitura
Hoje, 20 de Maio, às 20h, teremos a estréia do tão aguardado Sarau do nosso Canto de Integraçao de Todas as Artes (CITA). O Sarau ReCITA estréia com uma edição mais que especial dentro do projeto Acess'art. Um projeto onde nós, do Espaço CITA, estamos nos preparando para receber artistas e o público PCD, e desenrolando uma série de formações e reformas no espaço para que possamos cada vez mais ser um espaço além de plural, também acessível a todes.

Nesta primeira edição teremos 4 convidades, e um destes convidadas é o Luan Luando, Figurinha mais que conhecida aqui no extremo sul. Luan é Poeta, Ator, Autor, Palhaço, Raper e Produtor Cultural, e está lançando a trilogia "Vida de Pipeiro".
Luan nos deu a honra de Aceitar o convite para ser o nosso Mestre de Cerimônia nesta noite.
Ele conduzirá e se apresentará com mais 4 convidados e com você que vai chegar e aproveitar o MIC aberto.
Hoje trazemos para vocês 4 "falas" do Luan que muito nos enriqueceram e serviram de aprendizado para essa caminhada que o CITA e seus colaboradores estão.
Conheçam um pouco mais nosso Mestre de Cerimônia desta noite, e aguardamos vocês hoje, 20 de Maio às 20h, aqui na priemira edição do Sarau ReCITA.
Luan Luando
ESPAÇO CITA: Conta pra gente um pouco da sua trajetória dentro da literatura e teatro. Quando, como e por que você embarcou nessa jornada?
Tendo como referência e influência de minha família afro-indígena de minha Mãe Alzenir de Jesus e de meu pai José Felício Meireles da silva dois contadores de estórias que serviu como repertório imaginário poético, inicio minha carreira de artista preto, pobre, periférico e PCD em meados de 2004, em grupos de teatros nas periferias de Taboão da Serra e ingressando nos Sarau que surgiam nos bares da periferias da zona sul, me tornando uma das figuras emblemática para difusão desse movimento, fiz parte da segunda formação para jovens palhaço dos Doutores da Alegria, faço parte da trupe fuleragem, fiz parte da fundação do movimento cultural das periferias e da luta pela escrita da lei de fomento a periferia na cidade São Paulo, do grupo de cultura popular Candearte, atuei no Sacolão das artes, sou participante do Sarau do Binho, Correalizador do Sarau a voz do Povo e fiz parte da fundação do Movimento de Luta Popular, Cofundador diretor cultural da União Akasha (Centro de Desenvolvimento Humano) espaço de arte cultura de cura, autor da trilogia literária Vida de Pipeiro, composta pelos livros Manda Busca, Rélo e Tá na Mão, obras que abordam a Cultura de pipas e a Cultura Rua.
ESPAÇO CITA: Vamos falar de políticas públicas voltadas ao artista PCD. Confesso que mesmo sendo um articulador da cultura (e aqui falo também com um filho de cadeirante), nunca ouvi falar de uma política que fomente o/a artista PCD. Acredito que, somente há pouco mais de 2 anos os editais do Estado e Município de São Paulo incluíram "Indutores de Inclusão" em alguns editais onde, PCD's, LGBTQIA+, Negros e indígenas ganham 1 ponto no final do projeto para terem mais chances. Não chega a ser uma política pública de fato. Fora isso, tínhamos a “Virada Inclusiva”, mas que esse ano, não teremos. Você conhece algum movimento em busca disso? Acha que deveria existir um edital /premiação onde apenas artistas PCD's pudessem concorrer? Ou acredita em outro formato onde possamos fomentar cada vez mais artistas PCD's, desde a sua infância.
A situação da política pública cultural no Brasil já é ineficiente para os artistas que não tem necessidade especial, para nós que temos, é ainda mais grave, devido as deficiência em outros setores da política de acessibilidade, já que dependemos da integralidade dos serviços de política pública para que possamos desempenhar nossas atividades cotidianas, tanto a política de acessibilidade, quanto os dispositivos de equipamentos e profissionais são insuficientes para atender nossas demandas de acesso a política pública e os demais setores da sociedade. No caso de política pública, espaços, plataformas de difusão, fomento, formação de cultura e ao mercado de trabalho da cultura é bem mais escasso devido às seguintes observações:
A falta de espaços de protagonismo PCDs na elaboração de políticas, de equipamentos, de gestão, e de serviços para artistas, produtores e espectadores PCDs.
Falta entendimento das especificidades e singularidades dos fazeres artístico/cultural PCDs.
Falta de profissionais que atendam as demandas do ofício artístico cultural ou do acesso de PCDs aos espetáculos.
Faltam profissionais que atendam as demandas de acessibilidade PCD, (como profissionais de saúde) que atuam nos espaços culturais, facilidade de mobilidade, interprete de libras, sensoriais, facilitadores de âmbito cultural e etc.
Faltam espaços de formações e corpo docente, professores, arte educadores, intelectuais e facilitadores a nível universitário, técnicos e vocacionais para o universo PCDs.
Falta cartografias de artistas e participação aos eventos e agendas oficiais.
O mercado artístico/cultural é projetado exclusivamente para pessoa não portadora de necessidade especial, homens cis, brancos
A falta de narrativas PCDs em especial a de pretas, pretos, indígenas, LGBTQIA+, de periferias ou lugares em vulnerabilidades sociais.
Representatividade de artistas PCDs pretas, pretos, indígenas, LGBTQIA+ e periféricas nós espaços e nos meios de comunicação.
No caso das políticas de editais e as recentes anexações a pontuação para PCDs, para seleção de projetos das secretarias, acho importante, mas é política paliativa e limitante para quem tem necessidade de acessibilidade. Eu mesmo já fui selecionado pelo programa VAI da Secretaria Municipal de Cultura e tive graves problemas de saúde, de recursos, que não permitiram a execução do projeto com o mínimo de excelência.
ESPAÇO CITA: Nessa nossa caminhada de aprendizado sobre os artistas e público PCD, já notamos que alguns artistas não querem, ou evitam falar ou carregar em sua arte o tema da sua deficiência. Muitos querem falar sobre outros temas sem que sua deficiência seja protagonista no espetáculo. No entanto, por meio de algumas conversas, já percebemos que esses mesmos artistas só conseguem contratos quando justamente o que se é explorado é a deficiência, o colocando num lugar de superação. O que você poderia nos falar sobre isso, e o que espaços culturais precisam entender sobre contratar pessoas com deficiência?
A sociedade como um todo precisa de saber que a necessidade especial ou a limitação que a pessoa PCD é portadora, não é a pessoa, e que a estigmatização do sujeito PCD surge da ignorância e do desconhecimento de questões da pessoa com necessidade especial, devido a própria sociedade evitar, ignorar e dar um teor de constrangimento nos debates necessários para vida do PCD, ao meu ver temos que partir de alguns pontos: o primeiro é a invisibilidade do sujeito PCD que ocorre de algumas maneiras: a invisibilidade visível , quando as pessoas nos definem por nossas limitações, segundo, o preconceito funcional que nós resigna a tutelarização de nossas subjetividades, de nossas perspectivas e de nosso poder de decisão, e terceiro, que é a exclusão causada pela falta de acessibilidades aos espaços, atividades e de interação de grupos sociais.
O segundo prisma, vivemos em uma sociedade que uniformiza e categoriza as pessoas; a pessoa com necessidade especial é genuinamente singular e nossas especificidade se constrói pelos desdobramentos de como nossos corpos (físico, mental, emocional, espiritual) também se expressam a partir da ótica das necessidades que temos, onde desenvolvemos a arte/cultura esteticamente sublime e genuína; eu costumo dizer que ser PCD é uma oportunidade única de ler o mundo, só nos falta mais oportunidades, muitos de nós, artistas PCDs, tentamos nos tirar da mira assistencialista e capacitista limitante das pessoas, que não consegue enxergar a peculiaridade dos fazeres artísticos do PCD. Existem inúmeras situações humilhantes que pessoa é submetida pela a falta de conhecimento da vida PCD, no meu caso ficou mais difícil, porque se agregou o racismo e a vulnerabilidade social. Ser um PCD preto, periférico é enfrentar a zuação, o apelido preconceituoso e desrespeito do corpo PCD. O que me fez me impor na sociedade e levou a agravar meu quadro de saúde devido a inúmeros esforços. Muitas vezes a exclusão e preconceito estereotipados e satirizados aos PCDs, pretos, pretas, indígenas, pobres, LGBTQIA+, imigrantes e das periferias ou lugares de vulnerabilidade social é tolerável a nós é dado o não lugar, o cancelamento, o inabitável e até às agressões racistas, classista, machistas, homofóbicos e xenofóbicos.
As pessoas PCDs tem de lutar 3 a 4 vezes a mais que pessoas não portadoras. Mas estamos aí na luta e o mundo também é nosso, como falo em minha poesia “agora é nóis, depois de nóis, é nóis de novo.”
A trilogia vida de pipeiro surge da necessidade de desenvolver títulos literários que dialogasse com as comunidades periféricas, é uma série de livro que aborda a cultura de pipas e a Cultura rua que se estabelece nos bairros empobrecido a cidade de São Paulo e das cidades metropolitanas que fazem divisas como Embu das artes, Itapecerica da Serra e Taboão da Serra, todas conectadas pelo Rio Pirajussara.
O primeiro título "Manda Busca" de 2011, o segundo "Rélo" 2018 e terceiro "Tá na Mão”, que está sendo lançado pela Akasha Editorial, previsto para o segundo semestre de 2022, com o projeto “Festival das Pipas” que terá oficina de pipas com poesia, revoada de pipas, documentário vida de pipeiro, a exposição na época de pipas e a exposição poesias de monóculos.
Acaba não mundão que 2022 promete.
ESPAÇO CITA: Agora, falando sobre Sexta-feira, 20/05, você será o nosso Mestre de Cerimônia do evento e terá em suas mãos a responsabilidade de abrir a 1ª edição do Sarau ReCITA, o tão solicitado e aguardado sarau da Ocupação Cultural CITA que há 11 anos recebe e apoia diversos saraus e eventos literários da região. Para você, qual a importância dos saraus para as quebradas, como tá a ansiedade para puxar o Sarau ReCITA, e queremos saber: Vai trazer alguns poemas para apresentar?
.
Primariamente quero parabenizar a iniciativa do espaço Cita pelo Sarau ReCITA em homenagem aos artistas PCDs, o sarau foi, e é fundamental para o movimento cultural da periferia pelo fato de ser um espaço de escuta, que junta pessoas de variados seguimentos. Eu, Luan Luando estou feliz em comungar nesse espaço de residência, e faço com muito amor, por que estou a 17 anos travando luta pela nossa cultura da periferia como disse Marcos Pezão “Nois é ponte e atravessa qualquer rio”.

Serviço:
Sarau ReCITA
Com Luan Luando
Dia 20 de Maio, 20h
Sala Preta
コメント